quinta-feira, 14 de maio de 2015

Falando sobre os nativos de Ouro Preto - 14 de maio


Ao invés de estar fazendo o meu projeto de monografia, cujo prazo se esgota, e terminar o curso de Letras que já vão fazer uns 15 anos de tormento, resolvi falar sobre o tal "nativo de Ouro Preto". Primeiramente, o nativo de Ouro Preto, geralmente não gosta de ser chamado de nativo, embora até haja um jornalzinho chamado Nativo, possuidor de um formato antigo e que traz várias curiosidades históricas, assim como opiniões sobre a exploração da cidade na atualidade. Pensando bem, alguns se autointitulam nativos, principalmente os mais velhos e quando o assunto é carnaval, Festival de Inverno e repúblicas estudantis; nessas horas, são os nativos contra os forasteiros, estes últimos que encarecem os alugueis da cidade, que aproveitam os cursos da universidade e do IFMG, os que fazem e aproveitam todas as festas.

Todo este rancor dos nativos em relação aos forasteiros, neste caso, os estudantes, parece vir do fato que a presença de alunos ouropretanos nestas instituições era praticamente nula há algumas décadas atrás; a cidade vivia dois mundos distintos, que às vezes se encontravam, mas apenas nas lojinhas e padarias. O nativão mesmo de Ouro Preto, aquele que morava nos morros que ficam pingando e escondidos na cidade, aquele que veio de senzalas, de distritos, das roças, este nativo nem sabia o que era universidade. Parece mentira, mas há poucos anos, quando eu trabalhei em Rodrigo Silva, pude perceber como ainda há locais quase isolados em Ouro Preto, resquícios de quilombos, onde a criança só ia para a escola depois dos 8, 9 anos por ainda não ter sido batizada. Vi pessoas que acreditavam em Mãe do Ouro, Onça que leva susto e vira a pele (e olha que se tratava da diretora da escola), cobra com pé e cobra com cara de gente; esse é o nativo de Ouro Preto, o que passa pela igreja e faz o nome do pai três vezes, que ainda reza o terço e tem oratórios e quadros de santos como a minha avó tinha. 

Uma vez, minha professora de linguística disse que seria impossível se fazer uma pesquisa linguística em Ouro Preto, por causa da mistura de pessoa vindas de todas as partes do Brasil, eu discordei totalmente! Ela não estava falando de ouropretano, mas de forasteiros, que ficam aqui por alguns anos e se vão. Obviamente, por menor que seja o contato entre diferentes culturas e linguagens, isso influenciará diretamente na cultura e na linguagem de ambas as partes, mas a maior parte das características fica preservada, principalmente em comunidades mais isoladas. 



O ouropretano, no geral, sempre foi muito pobre. Há algumas famílias tradicionais, grandes nomes que são donas da maior parte das coisas na cidade. Os empregos que temos são os relacionados ao turismo, comércio, Universidade, IFMG e companhias mineradoras, e isso, no passado, significava emprego para os que tinham qualificação, o que não era o caso da maioria dos nativos. Os morros cresceram desordenadamente, e essas pessoas que ficam escondidas em seu cantinho são os nativos, os que não participam da vida cultural de sua própria cidade. 


Felizmente, todo este quadro vem mudando com o tempo. Hoje, muitos ouropretanos estão na universidade, estão nos serviços públicos, estão se desenvolvendo e pegando seus lugares. A cara do nativo mudou bastante, ele está nas festas das republicas, ele esta planejando estas festas, ele esta fazendo a arte e a cultura, a arte que sempre fizera, mas que agora está se despontando. O nativo está em todo lugar, mas ainda faz nome do pai três vezes quando passa perto da igreja, e faz um cafezim gostosim com broa e pão de queijo para as visitas.

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