terça-feira, 14 de julho de 2015

Refletindo sobre a apropriação da cultura alheia - 13 de julho


Eu sempre admirei as culturas exóticas por me trazerem algo que não faz parte de mim, algo que me enriquece, amplia o meu campo de visão. A cultura indiana é riquíssima, é algo que está muito longe de nós, é um mundo que não conhecemos, é algo do qual não podemos imaginar o significado, pois tudo o que a nós diz como ser, a infância, com todos os seus brincares, canções, desejos, comidas, rituais, crenças, a idade adulta, as certezas, tudo é parte de algo que não pertence às pessoas de outras partes, assim como sua cultura nunca nos pertencerá.

Eu posso não gostar de samba, odiar funk, eu posso não saber nada de futebol e também não me interessar por sertanejo ou churrasco, mas, seja lá o lugar onde eu estiver, essas coisas tocarão o meu ser porque fazem parte do que eu sou, fazem parte da minha cultura, fazem parte de mim.

O que percebo é que muitas pessoas não se identificam com a sua cultura ou, na tentativa de buscar um sentido para o que ainda não compreendem, na procura por um sentido maior, uma espiritualidade que foi perdida, muitos idealizam o que o outro parece ter além do que possuem.

O ser humano precisa de um sentido para viver, algo "maior" que o faça sentir importante, não é sem sentido que muitos ocidentais têm se juntado à facções extremistas, tomando para eles uma luta que não lhes pertence. Em escala menor, muitos procuram na Índia, por exemplo, uma espiritualidade perdida, mas ignoram tudo o que envolve esta suposta espiritualidade. Idealizam, subestimam e se cegam para os pontos críticos com o medo de perder o Eldorado.

Na aula de dança indiana, percebi que os participantes endeusavam a professora, como se ela fosse uma divindade. No fim das aulas, foram tocar os seus pés como fazem os indianos em sinal de respeito aos mais velhos e aos mestres. Apropriaram de outra cultura como se fosse a deles, idealizaram um ser humano, o endeusaram.

Respeito devemos ter, mas com todos os seres viventes. Admiração pelos mestres é perfeitamente aceitável e desejável, mas eu não me senti confortável em tocar os pés de uma outra pessoa, uma vez que isso não faz parte de mim, assim como sei que ela não se sentiria bem se tivesse que dar três beijinhos nos alunos.

É diferente respeito às diferenças culturais e apropriação da cultura alheia. Se eu for até a Arábia Saudita, terei que usar burca se não quiser morrer apedrejada, se estiver na Índia também terei que que respeitar códigos que, se quebrados, podem gerar atos desrespeitosos e causar problemas, mas eu me recuso a endeusar pessoas, culturas ou seja lá o que for. Respeito é devido a todos, e cada um demonstra de acordo com o que é confortável dentro de si mesmo, ou seja, de sua cultura,

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