domingo, 27 de setembro de 2015

Refletindo sobre os preconceitos embutidos - 26 de setembro


Alguns acontecimentos na festinha da escolinha infantil me fizeram perceber coisas das quais eu já havia me esquecido, ou as quais pensei já teriam mudado, mas não mudaram. 

Hipocrisia é pensar que não fazemos julgamentos e prejulgamentos, que não temos preferências, que não condenamos situações e fatos. Uma coisa é ser e pensar de forma diferente dos demais, outra é pensar que a sua maneira de ser e de pensar é a única verdadeira e correta entre todas as outras. Uma coisa é você não se sentir à vontade em meio a gays, punks, artistas, acadêmicos e outros grupos, outra coisa é você querer extermina-los da face da terra ou supor que eles mereçam condições inferiores às das suas. Uma coisa é não se sentir à vontade, outra é desrespeitar.

Somos únicos. Somos únicos, mas temos afinidades com outras pessoas, e é através destas afinidades que estabelecemos relação com o outro. Ficamos próximos aos que são similares à nós. Não há nada de errado nisso, é natural e confortável. O problema é não reconhecer que há outras maneiras de viver a vida, de pensar, de ser e de sentir o mundo; o problema é não respeitar o outro da mesma forma como gostaríamos de ser respeitados. O problema é ter certezas demais e respeito de menos.

O aniversariante escolheu a menina deficiente para ganhar o primeiro pedaço de bolo. Todos e principalmente a dona da escolinha o parabenizaram, disseram que foi uma atitude bonita. Sim, ele foi sensível em oferecer o primeiro pedaço de bolo à coleguinha, foi um belo gesto. Mas... Qual a mensagem que as educadoras estão passando?

Pelo que pude perceber, estava implícito no discurso de exaltação do gesto a inferioridade da coleguinha, a diferença. Todos podem ver que ela era diferente (tinha pernas curtas, o que não a impedia de se movimentar como os demais), mas o ato de beneficiá-la por esta diferença seria o mais correto? Quando digo beneficiar, refiro-me a vê-la como "coitadinha", alguém que deveria ser tratado com maior mimo que os outros.  Ao meu ver, para promover a igualdade, ela precisaria de cuidados diferenciados, relacionados à sua capacidade de locomoção, que é o único problema que pode deixá-la em desvantagem em relação aos coleguinhas. Mas, apesar de tudo, foi muito fofo o gesto do aniversariante, só não foi fofa a reação das adultas. 

Outra coisa que ouvi foi a comparação de um aluno com os demais. Diziam que ele era o mais diferente, o mais bonito. Suponho que por ele ter traços e cabelos europeus. Eu olhei ao redor, todas as crianças eram lindas! Aliás, como pode uma criança não ser linda? Moreninhas com lindos cachos, amarelinhas com lindas trancinhas, menininhos adoráveis dançando, eram todos lindos, de verdade. Por que apenas o branco de cabelo liso era lindo? Por quê?

São nestas pequenas coisas que nasce e cresce o preconceito. Dentro de nossas casas e nossas escolas.






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