sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Ficando muito "P" da vida -12 de novembro

Desde criança tento ser justa e honesta, pesando as partes, analisando os argumentos. Quando meus colegas discutiam, hora defendia os argumentos de um e hora de outro, minha mãe dizia para eu me decidir a quem eu iria apoiar. Eu apoio a verdade e a justiça, de acordo com a minha ética interna e as leis que temos.

Quando passei no concurso da prefeitura, fui trabalhar em Rodrigo Silva, ser agente administrativo em uma escola. A coordenadora da época me disse sorrindo que seria provisório, que logo eu seria transferida. Para chegar ao trabalho, tinha que pegar uma van que levava os professores às 6:20 e tinha que ficar lá até as 17:00, quando as aulas terminavam. O problema, na época, era que existia o transporte para os professores da manhã irem e voltarem, os professores da tarde iam com o transporte que ia buscá os da manhã, mas não existia transporte para que eu e os professores da tarde voltássemos; o que existia era um ônibus que levava os alunos para estudarem a noite no IFMG e que saía às 18:00. Eu não cheguei a pegar este ônibus, mas as professoras me contaram que os alunos até cuspiram nelas por acharem que o ônibus era só para eles e elas seriam intrusas. O que fazíamos era ir caminhando por mais de meia hora até chegarmos ao asfalto e pedirmos carona. Corremos muitos riscos, viajamos em carroceria de caminhonete com chafarizes desamarrados, quase voamos dela nos quebra-molas, passamos muitas humilhações. Foi então que nos juntamos para pedir uma providencia, um transporte digno. Fomos ao sindicato, e depois de sairmos no jornalzinho deste, conseguimos uma van para nos buscar.

Ainda na prefeitura, o nosso salário decaiu tanto que passou a ser praticamente um salário mínimo. Eu falei na reunião do sindicado sobre isso e organizei um abaixo-assinado argumentando sobre as perdas salariais. Mesmo depois de ter passado no concurso do IF MG, organizei tudo isso por achar injusta a situação. Chamamos atenção na época das eleições, e os funcionários receberam melhorias. 

Lutei para trabalhar na sede, a coordenadora ironizava, me ignorava, eu a via falar de outros funcionários, rindo-se de pedidos baseados em doenças. Um dia me ligou dizendo que existia uma vaga na escola, mas que eu só tinha alguns minutos para decidir, então fui. O pior lugar que já trabalhei na vida. Chegava e as pessoas nem olhavam para a minha cara, não conversavam umas com as outras. A reunião de fim de ano era para jogar na cara uns dos outros tudo o que eles haviam feito de errado, todos saíam arrasados.  Todos se odiavam, e agiam como cobras. A minha função era ficar na biblioteca, mas além de emprestar livros, eu deveria fazer uma planinho de aula porque existia o "horário de biblioteca" para todas as turmas. Eu, que era agente administrativo, tinha que ficar lá, contando historia, como se fosse um horário de aulas, enfrentando turmas de todas as faixas etárias. Logicamente, isso estava além de minhas atribuições, os professores tinham um horário livre e u não estava ganhando nada por isso. Fui reclamar no sindicato, obviamente. A pedagoga disse que eu tinha que me adaptar à escola e não ela se adaptar a mim. Ela fazia parte do sindicato.  Por essa e outras, me espezinharam e não queriam me mandar para outra secretaria. Chegaram a mandar outra pessoa para o meu lugar, mas mesmo depois de ter dado a palavra, a secretária da educação não queria assinar a minha saída. foi quando a moça do RH ficou irritada e disse que iria fazer um documento autorizando, a diretora se viu obrigada a assinar. Não queria assinar apenas porque eu lutei pelos meus direitos de não ser explorada.

Chegando ao IFMG, encontrei outra situação que me deixou indignada. Existe uma diferenciação  entre os horários dos funcionários que ocupam o mesmo cargo, e sei que isso não acontece só no IFMG, mas também na UFOP. Essa situação vai contra os princípios da isonomia e da impessoalidade, pois concede a alguns privilégios em detrimento dos outros. Ao meu ver, a situação é inconstitucional e ilegal. Por falar e lutar contra isso, e contra muitas outras injustiças, sou vista como a enjoada, a cri cri, a causadora de problemas. No Brasil, a pessoa que luta por seus direitos é mal vista, o normal é ser bitolado e aceitar que as pessoas são diferentes e que o certo é existir privilégios para alguns. É por estas e muitas, muitas outras que estou "P" da vida, de saco cheio com tudo. O pior de tudo é quando as pessoas me julgam por elas mesmas, assumindo que minto, que engano, que falsifico atestados, que quero levar vantagens. É por isso que o Brasil está este lixo, sem rumo e sem ética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Passando o Reveillon fora de casa e terminando o meu blog - 31 de dezembro

Este ano foi realmente um ano decisivo para a minha vida. A ideia do blog surgiu depois de alguns acontecimentos que colocaram um po...