quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ajudando a escrever e a publicar uma carta de repúdio - 26 de maio


Estes dias fui incumbida de redigir uma carta relatando toda a situação vergonhosa que vem acontecendo com Cláudia Faria Nonato, uma pessoa que, mesmo encontrando todas as circunstâncias desfavoráveis, não se desanimou em sua busca por justiça. segue a carta em nome de todos os seus amigos e familiares:



CARTA DE REPÚDIO

O poder público, assim como todos os seus representantes, existem, teoricamente, para promover o bem estar do cidadão que os elegeram, assim como promover o seu desenvolvimento social e pessoal para que a sociedade em que vivemos se torne cada vez mais igualitária, um lugar onde todos os cidadãos possam levar uma vida digna, da qual todos temos direito como seres humanos de acordo com a nossa constituição. O que todos nós, os amigos e familiares da Cláudia fizemos, foi exatamente tentar promover este bem-estar a ela, primeiramente, através de ações individuais, em seguida, através de medidas tomadas após o conhecimento das leis que regem sobre o tema específico dos cadeirantes.
Cláudia Faria Nonato é uma pessoa como qualquer outra, mas que tem necessidades especiais e também tem os seus direitos dentro desta condição; portadora da Amiotrofia Espinhal, doença rara e degenerativa, assim como de uma doença do sangue, a qual faz com que ela necessite de elevação para os pés, pois há risco de trombose, ela precisa de atenção especial para levar uma vida digna, mas não é o que vem acontecendo.
Essa situação começou no inicio de 2014, quando a sua fisioterapeuta atestou o pedido para a troca de sua cadeira de rodas, que já estava com o prazo vencido há mais de três anos; na ocasião, foi indicada uma cadeira de rodas motorizada para oferecer o mínimo de independência à Cláudia, e esta cadeira, obviamente, deveria ser totalmente adaptada ao corpo e às necessidades dela, pois caso contrário, ao invés de promover melhor qualidade de vida, poderia trazer prejuízos muito maiores à sua saúde. Cláudia foi encaminhada ao hospital SARAH de BH, onde fez todos os exames e medidas, e onde foi orientada a conseguir um empréstimo ou tentar adquiri-la através do SUS, pois o valor de aproximadamente R$ 12000,00 (sem as adaptações) estava totalmente fora de suas possibilidades financeiras. A decisão inicial tomada por todos foi dar inicio a uma campanha com o apoio das redes sociais para arrecadar o dinheiro, através de doações e de eventos; foi então que o setor de fisioterapia de Mariana interveio e sugeriu que ela aguardasse a verba que era enviada para a cidade exatamente para esse tipo de necessidade. Como deram garantia, desistimos todos da campanha, felizes com a “resolução” do caso. Já em agosto, a Claudia passou por inúmeras e cansativas avaliações dos profissionais do CER II de Itabirito, que possui convenio com a prefeitura de Mariana. Depois da aprovação, veio a promessa da chegada da cadeira entre outubro e novembro de 2014, o que todos nós comemoramos alegremente, pois, segundo os profissionais, a cadeira da Cláudia seria a primeira do tipo a ser entregue. O tempo passou e ela não teve mais nenhuma resposta, mas pela imprensa veio a notícia de uma outra cadeira de rodas motorizada que teria sido entregue a outro paciente, o que causou estranheza depois de todas as promessas.
Depois de muita humilhação, ligações e cobranças, e talvez pela repercussão de sua carta na página de sua campanha, a Cláudia foi chamada para receber a tão esperada cadeira. Chegando ao CER II, o que se passou foi constrangedor: Cláudia chegou ao local às 07:00h e só saiu às 21:30h, o que claramente foi uma espécie de revanche por ela ter lutado por seus direitos e não se calado. O tratamento foi humilhante, mas ela voltou satisfeita por finalmente estar com a cadeira, porém, já no dia seguinte as fisioterapeutas perceberam que a cadeira não havia vindo com as adaptações solicitadas; optaram por tentar fazer as adaptações pelo SARAH, o que não veio a acontecer porque com 15 dias de uso, o joystick que controla a cadeira se quebrou quando ela tentava andar pelas ruas, o que, segundo os profissionais, não deveria ter sido feito. Pelo que parece, a cadeira serviria apenas para o uso dentro de casa. Sendo assim, a cadeira foi descartada pelos médicos que acompanham Cláudia por ser perigoso para a sua saúde. Hoje ela não pode mais usar a sua antiga cadeira com maior frequência, pois ela também está inadequada e causa-lhe ferimentos, assim como também não pode usar a nova cadeira, que está pior que a anterior.
Depois de tanto sofrimento, Cláudia não se desanimou e continuou lutando, foi ao promotor de justiça em busca de seus direitos, o qual se viu indignado com toda a situação sofrida por ela e o tratamento que ela recebera; houve uma miniaudiência com o procurador da prefeitura, e nesta foi exigida uma solução imediata para o caso. Foi agendada consulta em uma clínica particular para uma nova avaliação, a qual foi paga pela Cláudia, mas ao receberem o novo orçamento, os representantes da prefeitura recuaram. No momento, por não terem sido cumpridos nenhum dos acordos, estamos todos aguardando nova ordem do promotor. O que veio acontecer posteriormente foi algo vergonhoso, pois funcionários do CER II e o representante dos fabricantes da cadeira foram até à casa da Cláudia sem aviso prévio, fazendo questionamentos sobre seus atos, intimidando-a e acusando-a de denegrir-lhes a imagem, dizendo que o que eles tinham a oferecer era aquela cadeira que já havia sido entregue. Foi mais uma humilhação pela qual ela teve que passar por apenas estar buscando o seu direito, o direito de ter uma vida digna. Ela não pediu esmolas, não pediu nenhum privilegio, não pediu nenhum absurdo, ela pediu o que a lei prevê, nada além disso. O absurdo em toda essa história é tratarem uma pessoa que busca por saúde, por uma vida digna como se fosse um criminoso, como se estivesse querendo ser beneficiado em detrimento de outros, como se fosse um nada dentro da sociedade. É vergonhoso um cidadão ser obrigado a entrar na justiça para ter os seus direitos garantidos! É vergonhoso fazerem com que o cidadão se sinta humilhado, ultrajado, derrotado, por lutar por justiça e por seus direitos fundamentais!
O que nós todos esperamos é que a justiça seja feita, que os responsáveis possam responder por seus atos, mas principalmente, que a Cláudia possa ter o que precisa, ser tratada respeitosamente, como um ser humano digno e de direito.

Amigos e familiares de Cláudia Faria Nonato

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Ação entre amigos - Rodas para Cláudia

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